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Escritores que não fariam feio no esporte

11 DE janeiro DE 2017
Nada mais distante da figura de um atleta que a de um escritor em um típico dia de trabalho: são horas a fio diante do computador, os olhos fitos na tela, apenas os dedos num movimento ágil que pode ir do frenesi à inércia em questão de segundos. Embora o senso comum insista em representá-los dessa maneira, nem todo escritor é um sedentário preso a uma cadeira. Alguns deles quase chegaram a ser esportistas de alto nível, e outros souberam encontrar na atividade física o equilíbrio necessário para o turbilhão mental que têm de suportar diariamente. Surpreenda-se aqui com a primeira parte, com 10 escritores e os esportes nos quais se arriscavam.

PARTE 1

 

1 – Agatha  Christie

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A dama das histórias de detetives foi, acreditem ou não, uma das pioneiras do surf na Inglaterra, ajudando a disseminar a prática do esporte em território bretão no início do século 20. Com o seu primeiro marido, Archie, Agatha conheceu o surf em janeiro de 1922, numa visita à África do Sul. Tornou-se uma das primeiras mulheres a conseguir ficar de pé numa prancha e chegou a viajar o mundo pegando carona nas ondas da Austrália, Nova Zelândia e Havaí.

 

2 – Albert Camus

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 O Prêmio Nobel de Literatura de 1957 foi goleiro de um time da Argélia em sua juventude. Afastado dos gramados devido a uma tuberculose, migrou para as páginas que o consagraram como escritor, dramaturgo e filósofo. Em visita ao Brasil em 1949, para um ciclo de conferências, causou estranheza na comitiva de intelectuais com o pedido inusitado de assistir a um jogo de futebol. Quando questionado a respeito do seu interesse pelo esporte, Camus respondeu: “O que eu sei sobre a moral e as obrigações de um homem devo ao tempo em que joguei futebol”.

 

 

3 – Chico Buarque

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 O meio-campo do Polytheama já foi treinado por Luiz Felipe Scolari e atuou ao lado de nomes como Tostão e Zidane. Num bate-bola com artistas e jogadores, em pleno Maracanã, saiu do estádio aclamado como craque de uma partida que contava com ninguém menos que Garrincha nas quatro linhas. Era final da década de 1970 e o anjo das pernas tortas já estava aposentado, mas quem não é capaz de relevar esse detalhe diante olhar cor de ardósia que, no exterior, ludibriava os taxistas garantindo que foi reserva de Sócrates na Copa de 1982? Chico já deixou um punhado de canções sobre a bola e até um dia desses participava de uma religiosa pelada na sede de seu time no Recreio, zona oeste do Rio de Janeiro, sempre aos sábados, pontualmente à uma e meia da tarde.

 

 

4 – David Foster Wallace

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 Uma academia de tênis futurista é o cenário para o monumental Graça Infinita, de David Foster Wallace. O escritor, que cometeu suicídio em 2008, era um entusiasta do esporte e o retratou não apenas na ficção, mas também em ensaios (a final de Wimbledon de 2006, entre Roger Federer e Rafael Nadal, inspirou o texto que encerra a coletânea Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio que Longe de Tudo, por exemplo). Wallace gabava-se de quase ter sido um grande tenista em sua adolescência: aos 14 anos, ele chegou a frequentar algumas posições modestas em rankings de atletas juniores, nos EUA. Na escola, carregava sempre uma raquete de tênis na bolsa: o escritor sofria de sudorese (razão também de sua mítica bandana) e queria fazer as pessoas acreditarem que tinha sempre acabado de sair da quadra.

 

 

5- Ernest Hemingway

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Eis um lugar-comum. Impossível falar de literatura e esportes sem falar de Ernest Hemingway. O homem inspirava adrenalina, expirava endorfina e era amante do boxe, da pesca esportiva, da corrida de cavalos e das touradas (se você considerar tudo isso como esporte – porque nem ele chegava a tanto; dizia que “só existem três esportes: tourada, corrida de carros e montanhismo, o resto são somente jogos”). Em Paris é uma Festa, há uma passagem divertidíssima em que ensina boxe ao poeta e crítico literário Ezra Pound. “Não consegui nunca ensiná-lo a dar um golpe curvo de esquerda”, confessou o Papa Hemingway.

 

 

6- F. Scott Fitzgerald

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O autor de O grande Gatsby foi também um grande esportista: nos bastidores. Cortado do time de futebol americano da Universidade de Princeton, onde nem chegou a concluir os estudos, o rostinho bonito da Geração Perdida canalizou sua ambição de se tornar um atleta no estudo aprofundado das táticas de jogo: virou um verdadeiro estrategista, tornando-se o braço direito de Fritz Crisler, um dos treinadores do mesmo time que o recusou. No futebol americano, atribui-se a Crisler o advento do “sistema de dois pelotões” (um de defesa, mais alto e corpulento; outro de ataque, mais baixo e veloz): segundo o biógrafo Andrew Turnbull, porém, a ideia original era de Fitzgerald.

 

 

7 – George Orwell

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Apesar de defender, em seu ensaio “O Espírito Esportivo”, de 1945, que “esporte sério não tem nada a ver com jogo limpo”, mas com “ódio, inveja, arrogância, desrespeito a todas as regras e prazer sádico em testemunhar a violência”, Orwell foi, ele próprio, na juventude, um exímio mergulhador e um ótimo jogador de críquete.

 

 

8 – Haruki Murakami

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O japonês que assina Do que eu falo quando falo de corrida foi um dos escritores picados pelo “bichinho” dos esportes de resistência. Para Murakami, escrever é um estado de profundidade mental que só pode ser alcançado através de uma rotina espartana, que exige uma força descomunal do corpo e da mente, ligados pelo esporte. Diariamente, Murakami escreve por cinco horas e corre dez quilômetros ou nada 150 metros (o equivalente a três piscinas olímpicas). Por vezes, faz as duas coisas: um dos seus esportes preferidos, além da corrida de rua e da maratona, é o triatlo. Em 23 de julho de 1996, o autor que tem tiragem de 1 milhão de exemplares no Japão, completou sua primeira ultramaratona: foram 100 quilômetros ao redor do lago Saroma, em Hokkaido.

 

 

9 – Hunter Thompson

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Terror das redações pelas quais passou no início de carreira, o baluarte do jornalismo gonzo se mudou dos EUA para Porto Rico, em 1960, para trabalhar numa revista de esportes chamada El Esportivo. À época, já havia sido co-fundador de um time de beisebol na escola e treinado com outra equipe de adolescentes, embora nunca tenha chegado a se profissionalizar com os tacos. Também foi editor de um jornal esportivo quando serviu à aeronáutica e, ao voltar aos EUA, colaborou com a Sports Ilustrated e terminou sua trajetória escrevendo sobre o tema para a ESPN.

 

 

10 – Jack Kerouac

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De origem humilde, o ícone do movimento beat ingressou no futebol americano para tentar uma bolsa de estudos na universidade. Entrou em Columbia, para onde se mudou de Massachusetts com a família. Segundo o New York Times, era um full back que se destacava por sua rapidez e agilidade até quebrar a perna durante uma de suas primeiras temporadas como atleta. Depois do acidente, serviu oito anos na Marinha, enquanto escrevia seu primeiro romance, O mar é meu irmão.

 

Fonte: Literatortura
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